Ano A / Cor: roxo / Leituras: 1Sm 16,1.6-7.10-13; Sl 22 (23); Ef 5,8-14; Jo 9,1-41
Diácono Milton Restivo
Neste 4º Domingo da Quaresma a liturgia da Palavra é muito rica, e seria necessário que fosse meditada uma por uma todas as leituras apresentadas. A primeira leitura narra a escolha do adolescente pastor Davi para ser o futuro rei de Israel em substituição ao rei Saul que havia, por suas atitudes, desagradado a Yahweh. Davi é ungido pelo profeta e juiz Samuel para tal finalidade: “Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi”. (1Sm 16,13). O Salmo 22, atribuído ao próprio Davi, é um dos mais belos, mais conhecidos, mais cantados e mais recitados salmos em todo o mundo cristão. Como o Evangelho de hoje é riquíssimo em ensinamentos, vamos nos ater única e exclusivamente na meditação do Evangelho, que é de João, que é o único que narra esse acontecimento. Ainda que estejamos no Ano A, que é atribuído à leitura do Evangelho de Mateus, vez por outra o Evangelho de João é lido, como o foi no domingo passado na passagem de Jesus com a samaritana. A passagem do Evangelho de hoje, do homem que é cego de nascença, retrata o único cego de nascença mencionado no Novo Testamento. O evangelista João não cita em seu Evangelho , nenhuma vez, a palavra milagre, e sim, sinal. Deixa claro aos seus leitores que os sinais narrados no seu Evangelho são uma manifestação da glória de Deus para aqueles que estão dispostos a penetrar no mistério de Jesus. O cego de nascença simboliza a comunidade que não tomou consciência de sua situação de cegueira. Mostra, também, o conflito das autoridades religiosas do tempo de Jesus e de todos os tempos que mantêm o povo na escuridão. Este sinal é o de número seis no Evangelho de João e, como todos os demais, tem por objetivo testificar a divindade de Jesus, o Filho de Deus. O primeiro sinal foi nas bodas de Caná, na transformação da água em vinho (Jo 2,1-11), simbolizando o amor e a salvação pela Palavra. O segundo sinal foi a cura do filho de um funcionário real (Jo 4,46-54), simbolizando saúde e a força da fé. O terceiro sinal foi a cura do paralítico, vítima da exclusão social (Jo 5,1-18), simbolizando solidariedade e graça. O quarto sinal foi a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15), simbolizando a partilha e mostrando que o mundo recebe o Evangelho através dos homens cooperando com Deus. No quinto sinal Jesus caminha sobre as águas (Jo 6,16-21), retratando o medo e a insegurança dos discípulos quando Jesus está ausente e demonstrando a confiança que Jesus inspira a todos e a paz que advém ao sentirem a presença de Jesus no barco com eles. O sexto sinal é a cura do cego de nascença (Jo 9,1-41), simbolizando que Jesus é a luz do mundo: “enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9,5). E, finalmente, o sétimo sinal, a ressurreição de Lázaro (11,1-44), atestando que Jesus é vida: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A ressurreição de Lázaro meditaremos no próximo domingo. Nesta passagem do Evangelho é narrado o episódio do cego de nascença. O Evangelho de João narra quatro tipos de cegueira e escuridão espirituais: