quarta-feira, 30 de março de 2011

4º Domingo da Quaresma

Ano A / Cor: roxo / Leituras: 1Sm 16,1.6-7.10-13; Sl 22 (23); Ef 5,8-14; Jo 9,1-41

Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9,5)

Diácono Milton Restivo

Neste 4º Domingo da Quaresma a liturgia da Palavra é muito rica, e seria necessário que fosse meditada uma por uma todas as leituras apresentadas. A primeira leitura narra a escolha do adolescente pastor Davi para ser o futuro rei de Israel em substituição ao rei Saul que havia, por suas atitudes, desagradado a Yahweh. Davi é ungido pelo profeta e juiz Samuel para tal finalidade: “Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi”. (1Sm 16,13). O Salmo 22, atribuído ao próprio Davi, é um dos mais belos, mais conhecidos, mais cantados e mais recitados salmos em todo o mundo cristão. Como o Evangelho de hoje é riquíssimo em ensinamentos, vamos nos ater única e exclusivamente na meditação do Evangelho, que é de João, que é o único que narra esse acontecimento. Ainda que estejamos no Ano A, que é atribuído à leitura do Evangelho de Mateus, vez por outra o Evangelho de João é lido, como o foi no domingo passado na passagem de Jesus com a samaritana. A passagem do Evangelho de hoje, do homem que é cego de nascença, retrata o único cego de nascença mencionado no Novo Testamento. O evangelista João não cita em seu Evangelho, nenhuma vez, a palavra milagre, e sim, sinal. Deixa claro aos seus leitores que os sinais narrados no seu Evangelho são uma manifestação da glória de Deus para aqueles que estão dispostos a penetrar no mistério de Jesus. O cego de nascença simboliza a comunidade que não tomou consciência de sua situação de cegueira. Mostra, também, o conflito das autoridades religiosas do tempo de Jesus e de todos os tempos que mantêm o povo na escuridão. Este sinal é o de número seis no Evangelho de João e, como todos os demais, tem por objetivo testificar a divindade de Jesus, o Filho de Deus. O primeiro sinal foi nas bodas de Caná, na transformação da água em vinho (Jo 2,1-11), simbolizando o amor e a salvação pela Palavra. O segundo sinal foi a cura do filho de um funcionário real (Jo 4,46-54), simbolizando saúde e a força da fé. O terceiro sinal foi a cura do paralítico, vítima da exclusão social (Jo 5,1-18), simbolizando solidariedade e graça. O quarto sinal foi a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15), simbolizando a partilha e mostrando que o mundo recebe o Evangelho através dos homens cooperando com Deus. No quinto sinal Jesus caminha sobre as águas (Jo 6,16-21), retratando o medo e a insegurança dos discípulos quando Jesus está ausente e demonstrando a confiança que Jesus inspira a todos e a paz que advém ao sentirem a presença de Jesus no barco com eles. O sexto sinal é a cura do cego de nascença (Jo 9,1-41), simbolizando que Jesus é a luz do mundo: “enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9,5). E, finalmente, o sétimo sinal, a ressurreição de Lázaro (11,1-44), atestando que Jesus é vida: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A ressurreição de Lázaro meditaremos no próximo domingo. Nesta passagem do Evangelho é narrado o episódio do cego de nascença. O Evangelho de João narra quatro tipos de cegueira e escuridão espirituais:

sábado, 26 de março de 2011

3º Domingo da Quaresma

Ano A / Cor: roxo / Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94 (95); Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

“Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim que sou uma mulher samaritana?” (Jo 4,9)

Diácono Milton Restivo

Quando procuramos meditar ou tirar mensagens dos acontecimentos bíblicos ou, de uma maneira geral, evangélicos, tratamos o fato como se estivesse acontecendo nos nossos dias, com as nossas leis, a nossa ética, a nossa moral e a nossa realidade. E, geralmente, chegamos a conclusões que, a nosso ver, seriam as mais corretas, mas que nada têm a ver com o fato que foi exposto. Quantos seguimentos religiosos, que se dizem cristãos, fazem isso, e impõem aos seus seguidores um jugo pesado de ser levado, querendo que seus adeptos tenham os costumes de dois mil anos atrás, e os condenam se assim não for. Desconhecem a realidade religiosa, política, social, moral, ética, os costumes e a situação de dependência ou independência que aquele povo vivia dentro do contesto que se pretende meditar. Desconhecendo a realidade do povo na época desse acontecimento, é uma leviandade querer tirar conclusões ou buscar conforto espiritual em um fato acontecido a dois mil anos que nada tem a ver com a nossa realidade, a nossa lei, com os nossos costumes e tudo o mais.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Fraternidade e a Vida no Planeta

Estamos em pleno desenvolvimento da Campanha da Fraternidade deste ano: A Fraternidade e a Vida no Planeta, com o lema: “A criação geme em dores de parto”, citando o versículo 22 do capítulo 8º da Carta de S. Paulo aos Romanos. Na atual conjuntura não temos dificuldades em interpretar este trecho da carta de S. Paulo aos Romanos como um retrato do mundo atual, em meio a tantos exemplos de degradação da natureza, de irresponsabilidade em relação ao cuidado que devemos ter com a obra da criação de Deus.
Todos nós somos responsáveis por ao menos uma parcela da destruição de nosso meio: seja poluindo diretamente, seja produzindo lixo, seja não colaborando com processos ecológicos de reciclagem, de arborização, de conservação, seja adotando um consumismo desenfreado, ou mesmo simplesmente com a nossa omissão diante de tantos desafios. Todos nós sabemos das conseqüências desastrosas do desmatamento, da poluição, como o aquecimento global e a não sustentabilidade da vida em médio e longo prazo, mas dificilmente estamos dispostos a adotar hábitos conscientes para mudar tal perspectiva.
Que esta Quaresma, tempo de reflexão, de conversão, de mudança de vida seja para todos nós um marco na adoção de hábitos ecologicamente corretos, que visem promover condições de vida mais digna para todos, preservando nosso meio ambiente, tornando-nos assim responsáveis pela manutenção de nosso planeta para nós e para as gerações futuras.

sábado, 19 de março de 2011

2º Domingo da Quaresma

Ano A / Cor: roxo / Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 26 (27); Fl 3,17-4,1

Este é o meu filho amado que muito me agrada. Escutem o que ele diz” (Mt 17,5)

Diácono Milton Restivo
 
A transfiguração de Jesus é uma passagem que se encontra em todos os Evangelhos sinóticos: Lucas 9,28-36, Mateus 17,1-9 e Marcos 9,2-10, mas cada um dos evangelistas sinóticos trabalhou a seu modo a narrativa dentro dos objetivos específicos que lhes era peculiar. A transfiguração de Jesus é o ponto culminante da sua vida pública, assim como o seu batismo é o seu ponto de partida, e sua ascensão aos céus é o seu termo. Pedro se refere a esse glorioso evento na sua segunda carta: “De fato, não tiramos de fábulas complicadas o que lhes ensinamos sobre o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo contrário, falamos porque somos testemunhas oculares da majestade dele. Pois ele recebeu de Deus Pai a honra e a glória, quando uma voz vinda de sua Glória, lhe disse: ‘Este é o meu Filho amado: nele encontro o meu agrado’.” (2Pd 1,16-18)

sábado, 12 de março de 2011

1º Domingo da Quaresma

Ano A / cor: roxo / leituras: Gn 2,7-9; 3,1-7; Sl 50 (51); Rm 5,12-19; Mt 4,1-11
 
Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá” (Mt 4,10)

Diácono Milton Restivo

A nossa liturgia nos introduz no Tempo da Quaresma. Termina a primeira parte do Tempo Comum que teve início na festa do Batismo do Senhor e se encerrou na terça-feira anterior à Quarta-Feira de Cinzas. O Tempo da Quaresma é um tempo destinado ao acolhimento do Reino de Deus pregado por Jesus; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos, contados, exatamente, quarenta dias.
Nas Sagradas Escrituras o número quarenta indica um tempo necessário para algo novo que vai chegar, ou um tempo que se finda uma geração, ou um tempo para conversão, de mudança de vida e de mentalidade como, por exemplo, os quarenta dias que duraram as águas do dilúvio (Gn 7,4.12.17; 8,6), quarenta dias e quarenta noites que Moisés passa entre as nuvens no cume do monte Sinai para receber as tábuas da Lei (Ex 24,18; 34,28; Dt 9,9.11.18.25; 10,10); quarenta anos de caminhada do povo israelita pelo deserto (Nm 14,33; 32,13; Dt 2,7;0 8,2; 29,4; Js 5,6; Sl 94,10; At 7,36; 13,18); quarenta anos de reinado de Davi em Israel (2Sm 5,4; 1Rs 2,11; 1Cr 29,27), quarenta anos de reinado de Salomão em Israel (1Rs 11,42; 2Cr 9,30); quarenta dias de caminhada de Elias pelo deserto até chegar no monte Horeb, a montanha de Deus ((1Rs 19,8); quarenta dias e quarenta noites que Jesus passou no deserto jejuando em oração e tentado pelo demônio (Mt 4,2; Mc 1,13; Lc 4,2); quarenta dias que Jesus passou entre os apóstolos depois de sua ressurreição e antes de sua ascensão aos céus (At 1,3). Quando alguém errava, para corrigi-lo, a Lei de Moisés determinava que lhe dessem quarenta chicotadas (Dt 25,3) e Paulo afirma que recebeu cinco vezes as quarenta chicotadas menos uma por pregar o Cristo Ressuscitado (2Cor 11,24).

sexta-feira, 11 de março de 2011

Campanha da Fraternidade 2011

Tema: Fraternidade e a Vida no Planeta
Lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22)

Nesta quarta-feira de Cinzas iniciou-se na Igreja do Brasil a Campanha da Fraternidade, que tem como temática mais uma vez a vida e preservação da natureza. O tema específico da Campanha da Fraternidade aborda a problemática do aquecimento global e as mudanças climáticas que estão sistematicamente assolando as populações, principalmente as mais vulneráveis. A Campanha da Fraternidade tem como Objetivo Geral: Contribuir para o aprofundamento do debate e busca de caminhos de superação dos problemas ambientais provocados pelo aquecimento global e seus impactos sobre as condições da vida no planeta.
Para atingir este objetivo, são propostos os seguintes objetivos específicos:

  • Viabilizar meios para a formação da consciência ambiental em relação ao problema do aquecimento global e identificar responsabilidades e implicações éticas.
  • Promover a discussão sobre os problemas ambientais com foco no aquecimento global.
  •  Mostrar a gravidade e a urgência dos problemas ambientais provocados pelo aquecimento global e articular a realidade local e regional com o contexto nacional e planetário.
  •  Trocar experiências e propor caminhos para a superação dos problemas ambientais relacionados ao aquecimento global.
Serão adotadas as seguintes estratégias:
  • Denunciar situações e apontar responsabilidades no que diz respeito aos problemas ambientais decorrentes do aquecimento global.
  • Propor atitudes, comportamentos e práticas fundamentados em valores que tenham a vida como referência no relacionamento com o meio ambiente.
  • Mobilizar pessoas, comunidades, Igrejas, religiões e sociedade para assumirem o protagonismo na construção de alternativas para a superação dos problemas socioambientais decorrentes do aquecimento global.
Portanto, não nos preocuparemos com esta importante temática apenas durante o Tempo da Quaresma, mas procuraremos refletir e agir durante todo o ano. Que nossas reflexões possam nos ajudar a atingir o objetivo da Campanha da Fraternidade em nossa comunidade, e contribuir para mudar a triste perspectiva do aquecimento global e da poluição, segundo nossas possibilidades.

sábado, 5 de março de 2011

IX Domingo do Tempo Comum

Ano A / Cor: verde / Leituras: Dt 11,18.26-28.32; Sl 30 (31); Rm 3,21-25.28; Mt 7,21-27

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu” (Mt 7,21a)

Diácono Milton Restivo

Moisés foi o libertador do povo israelita da escravidão no Egito e o legislador desse mesmo povo. É atribuída a ele a autoria dos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, resumidamente chamados de “Pentateuco”. A liturgia de hoje evoca uma passagem importante do livro do Deuteronômio, onde Moisés transmite, ao povo no deserto, como se deve buscar a bênção de Deus obedecendo aos seus mandamentos, ou ir de encontro da maldição virando as costas para Yahweh: “Vejam! Hoje eu estou colocando diante de vocês a bênção e a maldição. A bênção se vocês obedecerem aos mandamentos de Yahweh seu Deus, que eu hoje lhes ordeno. A maldição se não obedecerem aos mandamentos de Yahweh, seu Deus, desviando-se do caminho que hoje eu lhes ordeno, para seguir outros deuses que vocês não conheceram”. (Dt 26-27)
Quando ditava os dez mandamentos a Moisés, Yahweh já havia dito: “Não tenha outros deuses diante de mim. Não faça para você ídolos, nenhuma representação daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles, porque eu sou Yahweh, seu Deus, sou um Deus ciumento: quando me odeiam, castigo a culpa dos pais nos filhos, netos e bisnetos; mas quando me amam e guardam os meus mandamentos, eu os trato com amor por mil gerações”. (Ex 20,3-6)