Ano A / cor: verde / Leituras:
Pr 31,10-13.19-20.30-31; Sl 127 (128); 1Ts 5,1-6; Mt 25,14-30
“Quem poderá encontrar uma mulher forte? Ela vale
muito mais do que pérolas” (Pr 31,10)
Diácono Milton Restivo
Estamos chegando no fim do Tempo
Comum, onde a Igreja, na sua liturgia da Palavra e Eucarística veste verde, cor
e símbolo da esperança do povo de Deus em viver plenamente o Reino de Deus que
já está entre nós. Com o final do Tempo Comum termina, também, o Ano Litúrgico,
que tem como referência no seu encerramento a festa de Cristo, Rei do Universo
que celebraremos no próximo domingo, que será o trigésimo quarto domingo do
Tempo Comum, quando a Igreja veste branco.
A liturgia deste trigésimo
terceiro domingo do Tempo Comum, na sua
primeira leitura, enaltece a figura da mulher virtuosa. O livro Cântico dos
Cânticos assim fala da mulher formosa: “Você é bonita, minha amiga, você é como
Tersa, formosa como Jerusalém. Você é terrível como esquadrão com bandeiras
desfraldadas. Afaste de mim teus olhos, que teus olhos me perturbam!” (Ct 6,4-5). É muito interessante verificarmos nas
Sagradas Escrituras como a figura da mulher é colocada em destaque em diversos
lugares, situações e conotações. No Livro Sagrado o assunto “mulher” é abordado
com muita propriedade e inteligência das mais diversas maneiras e nos mais
variados aspectos. Em alguns lugares é enaltecida a figura da mulher virtuosa,
da mulher cheia de virtudes e predicados, da mulher recatada em todas as suas
atitudes. Em outras situações é criticada e condenada a figura da mulher má e
maliciosa, da mulher perversa, da mulher que denigre tudo o que há de mais
belo, de mais puro e de mais santo na figura doce e santa dessa pessoa do sexo
feminino criada por Deus para ser companheira e mãe.
O livro dos Provérbios, no seu último capítulo,
primeira leitura da liturgia de hoje, enaltece sobremaneira a figura da mulher
formosa, forte, honesta, trabalhadeira, companheira, provedora do lar, esposa
ideal (cf Pr 31,10-30) Abordemos a figura da mulher virtuosa como nos transmite
a mensagem do Senhor através dos escritos sagrados.
No primeiro livro das Sagradas Escrituras nos é
relatado que o Senhor criou o homem à sua imagem e semelhança, e deu-lhe uma
companheira, dizendo: “Não é bom que o
homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar
que lhe corresponda. [...] Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre
o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu
lugar. Depois da costela que tirara do homem, Iahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou:
‘Este sim é osso dos meus ossos, e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’
porque foi tirada do homem!’ Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só
carne.” (Gn 2,18. 21-24)
Nesse ato e em sua infinita sabedoria, o Senhor deixa-nos
uma mensagem e um ensinamento que deveríamos meditar e levar à sério: Deus
tirou uma costela do homem e dela modelou a mulher; tirou-a do lado do coração
do homem. Se Deus a tivesse tirado parte da cabeça do homem e dela modelado a
mulher, talvez a mulher se tornasse soberba e, por entender ter sido tirada da
cabeça do homem, da parte superior do homem, tivesse a tentação e a ousadia de
querer dominar seu parceiro. Se o Senhor tivesse tirado parte do pé do homem e
dela modelado a mulher, talvez o homem se julgasse superior e se sentisse no
direito de escravizar a mulher, de pisar sobre ela, de dominá-la. Na sua
infinita misericórdia e sabedoria o Senhor tirou a mulher do lado do coração do
homem para que, nem homem e nem mulher, se julgassem superior um ao outro, para
que ambos caminhassem juntos, partilhassem suas vidas e se ajudassem mutuamente
em quaisquer circunstâncias e em todos os momentos de suas vidas. Desde este
primeiro momento da criação do homem e da mulher, depois que se unem e, “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe,
e se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24), ambos
passam a rir no mesmo riso e a chorar na mesma lágrima; se predispõem a estarem
juntos nos bons e nos maus momentos de sua existência. E isso foi ratificado
por Jesus: “Vocês nunca leram que o Criador, dede o início, os fez homem e
mulher e os dois serão uma só carne? Portanto, o que Deus uniu, o homem não
deve separar.” (Mt 19,4-6) Já dizia alguém: “Atrás de um grande homem sempre existe a figura de uma grande mulher”,
mas eu digo; “se não for uma grande mulher, jamais o
homem será grande”.
As Sagradas Escrituras são pródigas em enaltecer e
elogiar a mulher virtuosa e afirma que “A
mulher graciosa adquire honra...” (Pr 11,16) e que “Uma mulher forte é a coroa do marido...” (Pr 12,4). Para um homem
que tem como companheira uma mulher forte, honrada e honesta, não existem
obstáculos ou problemas que ele não vença. Uma mulher forte é o apoio, a estaca
central e o incentivo para que o homem alcance os seus objetivos e vença suas
empreitadas. “Casa e fortuna são herança
paterna, mas é Iahweh quem dá uma mulher prudente.” (Pr 19,14). Que adiantaria ao homem ser rico,
receber heranças de seu pai se não tiver como companheira uma mulher prudente?
A herança são os pais que deixam, mas uma mulher prudente e virtuosa, como
companheira, é uma dádiva preciosa do Criador. “O que achou a uma mulher boa, achou o bem, e receberá do Senhor um
manancial de alegria.” (Pr 18,22). “A mulher sábia constrói o seu lar.” (Pr
14,1) “Goze a vida com a esposa que você ama, durante todos os dias da vida
fugaz que Deus lhe concede debaixo do sol.” (Ecl 9,9a)
César, imperador de Roma, dizia: “Não adianta a mulher do imperador ser honesta; ela precisa demonstrar
que é honesta.” No livro do
Eclesiástico encontramos esse conselho: “Não
despreze uma esposa sábia e boa, porque a bondade dela vale mais do que o ouro.
[...] Você ama sua esposa? Não se separe dela.” (Eclo 7,18.26)
O próprio Senhor nos incentiva a valorizar a mulher
honesta, sábia, prudente e boa, porque é nela que o homem de bem encontra
consolo e repouso, e o Senhor nosso Deus continua falando assim da mulher
virtuosa: “Feliz o marido que tem mulher
virtuosa; a duração de sua vida será o dobro. Mulher habilidosa é alegria para
o marido, que viverá em paz por toda a vida. Uma boa mulher é uma sorte grande,
que será dada aos que temem ao Senhor. Rico ou pobre, estará contente e terá
sempre rosto alegre.” (Eclo, 26,1-4) Uma mulher excelente, como dizem as
Sagradas Escrituras, é o maior presente que um homem pode receber do Senhor; é
uma boa sorte e Deus somente a dá a quem o teme e caminha por suas veredas. O
homem que tem uma mulher prudente, honesta, sábia e boa, jamais a sombra da
tristeza ofuscará o seu coração, porque: “Mulher
graciosa alegra o marido, e com seu saber o fortalece. Mulher discreta é dom do
Senhor, e mulher bem educada não tem preço. Mulher modesta duplica seu encanto,
e não há valor que pague a mulher casta. Como o sol levantando-se sobre as
montanhas do Senhor, assim é a beleza da mulher em sua casa bem arrumada. Como
lâmpada brilhante no candelabro sagrado, tal é a beleza do rosto num corpo bem
acabado. Colunas de ouro sobre bases de prata, assim são as belas pernas sobre
sólidos pés.” (Eclo 26,13-18) Diríamos, sem receio de errar, que o Senhor nosso
Deus chega ao cúmulo de colocar a mulher irrepreensível acima dos próprios
filhos e de qualquer riqueza que o homem possa ter, quando diz: “Os filhos e a fundação de uma cidade
perpetuam o nome, porém acima dos dois está a mulher irrepreensível.” (Eclo
40,19)
O livro Cântico dos Cânticos nos transmite uma das
mais lindas poesias que uma mulher virtuosa poderia receber de seu amado em
todos os tempos e, o que ele escreve, podemos repetir sem medo de incorrer em
erro para a mulher virtuosa que divide conosco as alegrias e as tristezas da
existência: “Como você é bela, minha
amada, como você é bela! [...] Você roubou meu coração, minha irmã, esposa
minha, você roubou meu coração com um só dos seus olhares, uma volta dos
colares. Como seus amores são belos, minha irmã, esposa minha. Seus amores são
melhores do que o vinho, e mais fino do que os outros aromas e o odor de seus
perfumes. Seus lábios são favo escorrendo, ó esposa minha. Você tem leite e mel
sob a língua, e o perfume de suas roupas é como a fragrância do Líbano. Você é
um jardim fechado, minha irmã, esposa minha, um jardim fechado, uma fonte
lacrada.” (Ct 4,1.9-12) E, no elogio à mulher amada, o amado não para por
aí, e continua no seu poema enaltecendo a mulher virtuosa: “Como você é bela, como você é formosa, que amor delicioso! Você tem o
talhe da palmeira, e seus seios são os cachos. E eu pensei: ‘vou subir à
palmeira para colher dos seus frutos’! Sim, seus seios são cachos de uva, e o
sopro de suas narinas perfuma como o aroma das maçãs. Sua boca é um vinho
delicioso que se derrama na minha, molhando-me lábios e dentes.” (Ct 7,7-10)
O Senhor nos orienta como deve ser tratada a mulher
santa: “Seja bendita a sua fonte,
alegre-se com a esposa de sua juventude: ele é corça querida, gazela formosa.
Que as carícias dela embriaguem sempre a você, e o amor dela, o satisfaça
continuamente.” (Pr 5,18-19) E não poderia existir maneira melhor de falar e
elogiar a mulher virtuosa senão como escreveu o escritor sagrado, conforme
consta da primeira leitura da liturgia de hoje: “Quem poderá encontrar a
mulher forte? Ela vale mais do que pérolas. Seu marido confia nela e não deixa
de encontrar vantagens. [...] Ela sabe dar valor ao seu trabalho, e mesmo
de noite sua luz não se apaga. [...]
Seu marido é respeitado no
tribunal, quando se assenta entre os juízes do povo. [...] Ela se veste de força e dignidade, e sorri para o futuro. Ela abre a
boca com sabedoria, e sua língua ensina com bondade. [...] A graça é enganadora e a beleza é passageira, mas a mulher que teme a
Yahweh merece louvor. Cantem o sucesso do trabalho dela, e que suas obras a
louvem na praça da cidade.” (Pr
31,10-11.18.23.25-26.30-31). Assim as Sagradas Escrituras falam da
mulher sábia, prudente, irrepreensível, honesta, santa, digna e virtuosa, e
repito, transcrevendo novamente esta citação: “Uma mulher forte é a coroa do marido...” (Pr 12,4)
A mulher virtuosa confia no Senhor e, com o salmista, devemos
repetir todos os dias: "Mas tu, ó
minha alma, conserva-te sujeita a Deus, porque dele vem minha paciência. Só ele
é meu Deus e meu Salvador; é minha defesa, não vacilarei. Em Deus está a minha
salvação e a minha glória; de Deus é que espero o meu socorro, a minha
esperança está em Deus." (Sl 62 (61),6-8)
O salmista, no Salmo desta liturgia, enaltece o marido
que teme a Yahweh e que tem uma esposa amorosa: “Feliz quem teme a Yahweh e
anda nos seus caminhos. Você comerá do trabalho de suas próprias mãos, tranquilo
e feliz. Sua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do seu lar. Seus
filhos, rebentos de oliveira, ao redor de sua mesa. Essa é a benção para o
homem que teme Yahweh.” (Sl 128 (127),1-4)
Um dos maiores elogios à mulher amada encontramos no livro
do Cântico dos Cânticos: “Quem é essa que desponta como aurora, bela como a
lua, fulgurante como o sol, terrível como esquadrão com bandeiras
desfraldadas?” (Ct 6,10)
O amor da mulher, como mãe é imbatível e não há no
mundo amor que o supere. A mulher virtuosa tem dentro de si o amor que se
assemelha ao do Criador, apenas superado por esse: “Mas, pode a mãe se
esquecer de seu nenê, pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas?
Ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de você.” (Is 49,15)
No Evangelho deste domingo Jesus conta aos seus
discípulos a parábola dos talentos. A explicitação de Jesus é clara e precisa.
O homem que foi viajar para o estrangeiro seria o próprio Jesus que, depois de
distribuir os seus ensinamentos e riquezas que ele trouxera do Pai para todos
os homens, viaja, volta para junto do Pai, na expectativa de que todos os
discípulos disponham e usem os talentos que ele, nos três anos de missão entre
os homens, deixou para todos. A cada um foram dados talentos que, quem os
receberam, os façam frutificar, duplicar, angariar juros.
Os talentos são todos os meios que a Providência
Divina concede a cada um para viver plenamente como filho e filha de Deus. Os
talentos são tudo o que a natureza fornece de bom e útil para que o homem tenha
uma vida digna, são os dons particulares da graça que o Pai dá a cada um de
acordo com o seu estado de vida, não somente a riqueza, mas também a pobreza,
não somente o descanso, mas também o trabalho. Tudo o que o homem tem e é, são
os meios que o Pai dá como talentos para a sua salvação. Todos e cada um têm
capacidades diferentes para usufruir os talentos dados pelo Pai. Os que usam
seus talentos de maneira responsável, receberão do Senhor o seguinte convite: “Muito
bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu
lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria.” (Mt 25,21.23)
O inútil da parábola, aquele que recebeu talentos como
os demais e se acomodou, aquele que preferiu viver a sua vida como bem lhe
aprouvesse, que se entregou totalmente à inércia e à preguiça, que teve uma
visão passiva e destorcida da fé, que tentou tirar proveito próprio dos
talentos que lhe foram outorgados, atribuindo ao próprio Senhor a causa da sua
irresponsabilidade e do seu próprio medo, ouvirá do Senhor: “Empregado mau e
preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não
semeei. Então você devia ter depositado o meu dinheiro no banco, para que, na
volta, eu recebesse com juros o que me pertence.” (Mt 25,26-27)
O nosso Deus é um Deus generoso e que cumula a todos
os seus filhos e filhas de bens e talentos para que seja propagado o seu Reino
de paz e justiça. O Reino de Deus é um reino de inclusão de todos, menos para
os que agem, mesmo por inércia, para destruí-lo.
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