sábado, 19 de junho de 2010

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM (20/06/2010)

Ano C / Cor litúrgica: verde / Leituras:

Zc 12,10-11;13,1 - Contemplarão aquele a quem transpassaram

Sl 62 - A minh’alma tem sede de vós

Gl 3,26-29 - Vós todos que fostes batizados vos revestistes de Cristo

Lc 9,18-24 - Tu és o Cristo de Deus! O Filho do Homem deve sofrer muito

Quem dizem os homens que eu sou? (Lc 9,18)
 Diácono Milton Restivo
De algum tempo para esta data viemos meditando juntos a Palavra. De uma maneira especial, nos apegamos à mensagem do Evangelho e, esporadicamente, de uma leitura em especial. A liturgia de hoje nos traz um Salmo de rara beleza, muita carência e muita interiorização: “És tu, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso te busco! A minha alma tem sede de ti, minha carne também te deseja com ardor, como terra seca, esgotada e sem água.” (Sl 63 (62),2).
Mas, antes de nos ater às leituras, acredito ser oportuno relembrarmos de como nos saciamos através da liturgia da Palavra e da liturgia Eucarística. Quando participamos da Santa Missa, antes de nos alimentarmos da Eucaristia, nos alimentamos da Palavra através da Liturgia da Palavra. Não podemos nos alimentar da Eucaristia se antes não tivermos nos alimentado da Palavra, porque, da mesma forma que Jesus está na Eucaristia, está, também, na Palavra, não somente isso, Jesus é a Palavra: “E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória; glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. (Jo 1,14). A Liturgia da Palavra tem um conteúdo de suprema importância, pois é nesta hora que Deus nos fala solenemente; Deus nos fala através das leituras do Antigo e do Novo Testamento, do Salmo, do Evangelho e da homilia. O Senhor fala a uma comunidade reunida como “Povo de Deus”.

Nunca é demais repetir que a Liturgia da Palavra é composta das seguintes fases: a primeira leitura que, geralmente, é tirada do Antigo Testamento e, no Tempo Pascal, dos Atos dos Apóstolos; a seguir o Salmo, chamado de “Salmo Responsorial”, que é uma resposta à mensagem proclamada na primeira leitura para ajudar a assembléia a rezar e a meditar na Palavra que acabou de ser proclamada. O Salmo pode ser cantado ou recitado. Na sequência vem a segunda leitura, que geralmente é composta de epístolas e sempre tirada das cartas de pregação dos Apóstolos às diversas comunidades e também a nós, cristãos no dia de hoje. Terminada esta leitura vem o canto de aclamação ao Evangelho que tem por objetivo convidar e motivar a assembléia a ouvir o Evangelho que vem a seguir, podendo ser segundo João, Marcos, Mateus ou Lucas conforme o Tempo Litúrgico ou o tema do dia, quando toda a assembléia fica de pé, numa atitude de respeito e expectativa para ouvir a mensagem, e, finalmente, a homilia feita pelo presidente da celebração que é a interpretação de uma profecia, ensinamento de uma mensagem ou a explicação de um texto bíblico. Na homilia o presidente da celebração atualiza o que foi dito há dois mil anos atrás ou mais e nos diz o que Deus está querendo nos dizer hoje. Este conjunto de leituras, orações, meditações e atualizações das mensagens, é Jesus nos alimentado com a sua Palavra, porque a palavra de Deus é o alimento diário do cristão, conforme diz o autor da carta aos Hebreus: “A Palavra de Deus é viva, é realizadora, mais afiada do que toda a espada de dois gumes: ela penetra até onde se dividem a vida do corpo e a do espírito, as articulações e as medulas e é capaz de distinguir as intenções e os pensamentos do coração.” (Hb 4,12) e Jesus é aquele que tem palavras de vida eterna: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavra de vida eterna.” (Jo 6,68). Pela graça do Espírito Santo a Palavra de Deus toca o coração do pecador arrependido e leva-o à comunhão com Deus na sua Igreja.
Mas, hoje, pela beleza do Salmo Responsorial desta liturgia, vamos nos ater um pouco nesta parte. Nos salmos se encontram todas as vicissitudes da vida, desde os brados de angústia, de aflição, de fracassos e de prantos, até os felizes hinos de glória, de exaltação e exultação, de vitória, de reconhecimento, como também de admiração e de contemplação das maravilhas de Deus.
Os israelitas nasciam com o salmo nas entranhas e no coração. Daí, seu espírito profundamente religioso e sua intimidade nas relações com Deus: “Eu te celebro por tanto prodígio, e me maravilho com as tuas maravilhas.” (Sl 139 (138), 14); “Como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo.” (Sl 91 (92),1); “Povos todos, batam palmas, aclamem a Deus com grito de alegria! [...] Toquem para o nosso Deus, toquem! Toquem para o nosso Rei, toquem! Porque Deus é o rei de toda a terra: toquem com maestria.” (Sl 47 (46), 2.7-8).
O Salmo, na Santa Missa, faz parte integrante da liturgia da Palavra, não podendo por isso ser omitido. É o prolongamento da palavra bíblica, em sentido lírico-meditativo, tendo, portanto, o mesmo valor da palavra de Deus. É também canto de repouso e de meditação.
Nas diversas maneiras de salmodiar, leve-se em conta, sempre, o caráter musical dos salmos.        Os Salmos, como ensina a Instrução da Liturgia das Horas, “não são leituras nem orações compostas em prosa; são poemas de louvor.” (IGLH 103).
Os Salmos nasceram da experiência concreta do povo pobre, por isso pode-se dizer que é um memorial da fé e da luta de nossos antepassados que viveram momentos de alegria, de esperança, de tristeza, e de dor. Entre os Salmos temos os mais variados motivos dos quais derivaram sua origem: recordar o passado através da história, o conflito entre fé e realidade, o sofrimento, a lei de Deus, as festas do povo, a busca da presença de Deus, a saudade, a penitência, a natureza, a esperança.
O rei Davi rezava Salmos cantando, dançando e tocando instrumentos: “Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor, cingido com um efod de linho. O rei e todos os israelitas conduziram a arca do Senhor, soltando gritos de alegria e tocando a trombeta”. (2Sm 6,14-14). E, quando Davi sofreu reprimenda por parte de sua esposa Micol pela atitude que tomara diante do povo, “como se fosse um homem qualquer”, dançando, pulando e cantando salmos, foi essa a sua resposta à sua esposa: “Foi diante do Senhor que dancei. E me abaixarei ainda mais, e me aviltarei aos teus olhos, mas serei honrado pelas escravas de que falaste.” (2Sm 6,21-22).
Entre o povo israelita o Salmo era rezado, cantado e acompanhado com instrumentos: “Cantem para Yahweh um canto novo, pois ele fez maravilhas. [...] Terra inteira, aclame Yahweh, e dê gritos de alegria! Toquem para Yahweh com a harpa e o som dos instrumentos. Com trombetas e o som da corneta, aclamem o rei Yahweh”.  (Sl 98 (97),1.4-6); “Ó Deus, eu cantarei para ti um canto novo, tocarei para ti a harpa de dez cordas”. (Sl 144 (143),9).
Os Salmos ocupam lugar de destaque na expressão orante católica (missas, liturgia das horas etc.). Expressam sentimentos de confiança, de temor, de humildade, de esperança, de alegria, de júbilo.  A oração salmódica é um diálogo entre o homem vivo e o Deus vivo.
O Salmo desta liturgia nos apresenta um fiel carente e sedento de Deus e que se sente como a terra árida, infrutífera, que nada produz pela falta reconfortadora da presença de Deus: “És tu, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso te busco! A minha alma tem sede de ti, minha carne também te deseja com ardor, como terra seca, esgotada e sem água.´(Sl 63 (62),2).
A falta da presença de Deus e sua graça na vida do crente são como a falta da água no terreno que deveria ser generoso em plantas e frutífero, mas que mingua pela falta do líquido tão precioso e indispensável para a vida. O profeta Isaias convocava aqueles que tinham sede de Deus: “Atenção, todos os que estão com sede, venham buscar água.” (Is 55,1), e é Jesus quem nos oferece essa água: “Se você conhecesse o dom de Deus, e quem lhe está pedindo de beber, você é quem lhe pediria. E ele daria a você água viva”. [...] “Aquele que beber a água que eu vou dar, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna.” (Jo 4,10.14). E o livro do Apocalipse termina com essa exortação: “Vem! Quem estiver com sede, venha! E quem quiser, receba de graça a água da vida.” (Apo 22,17b).
O assunto do Salmo desta liturgia é de fundamental importância. Fala da sede que o fiel tem de Deus, da sede da alma. E Agostinho de Hipona entendeu tão bem essa sede quando diz: “Tu nos criaste para ti mesmo e a nossa alma nunca encontrará descanso até que descanse em ti.”.
O Salmo 42 (41), da mesma forma, reclama pela água viva: “Como a corsa bramindo por águas correntes, assim minha alma está bramindo por ti, ó meu Deus! Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando voltarei a ver a face de Deus?” (Sl 42 (41),2-3). E quem bebe desta água se sente reconfortado, como nos diz o Salmo 23 (22): “Yahweh é o meu pastor. Nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar; para fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas forças. Ele me guia por bons caminhos por causa do seu nome”. (Sl 23 (22),1-3).
O profeta Isaías transmite um raio de fé quando coloca nas mãos do Senhor toda a sua esperança por ter bebido água nas fontes da salvação: “Eu te agradeço, Yahweh, porque estavas irado contra mim, mas a tua ira se acalmou e me consolaste. Sim, Deus é a minha salvação! Eu confio e nada tenho a temer, porque minha força e meu canto é Yahweh; ele é a minha salvação. Com alegria vocês todos poderão beber água nas fontes da salvação”. (Is 12,1-3).
Na conversa que Jesus teve com Nicodemos, ele definiu quem seriam os destinatários de partilhar do Reino de Deus: “Eu garanto a você: ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nasce da água e do Espírito”. (Jo 3,5). Nos estertores da morte e, “sabendo que tudo estava realizado, para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: ‘Tenho sede’. (Jo 19,28). Que sede seria essa? Já estava tudo realizado, tudo estava consumado (cf Jo 19,30), Jesus sentiu saudade do Pai, como o salmista do Salmo de hoje: “És tu, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso te busco! A minha alma tem sede de ti, minha carne também te deseja com ardor, como terra seca, esgotada e sem água.” (Sl 63 (62),2).
No Evangelho de hoje nos parece que Jesus busca a definição de sua identidade. Especulação sobre a pessoa, o caráter e a vida de Jesus foi coisa que nunca faltou ao longo dos tempos, nem entre os judeus, nem entre os gentios, nem mesmo entre as gentes dos nossos dias. As respostas à sua pergunta: “Quem diz o povo que eu sou?’ (Lc 9,18), foram as mais desencontradas possíveis. Falaram de tanta gente e nem sequer aproximaram-se de quem seria realmente Jesus; aliás, nem falaram de sua pessoa, de sua família, de sua origem pobre e simples de Nazaré. Divagaram falando de personagens históricos e que, de uma maneira ou de outra, foram rejeitados pelo povo. Talvez, na rejeição, Jesus tenha algo em comum com os personagens bíblicos citados.
À resposta do que Jesus perguntara: “Quem diz o povo que eu sou?” (Lc 9,18), os apóstolos responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. (Lc 9,19). Havia muitas idéias de quem seria Jesus: seria João Batista a quem Herodes mandara matar? Seria Elias, a quem o povo judeu aguardava seu retorno? Seria ele um dos profetas que foram perseguidos e mortos pela incompreensão do povo e agora ressuscitara? Por que foi citado o profeta Elias? Porque na tradição judaica Elias deveria retornar para anunciar ao povo o terrível dia do Senhor e para converter os corações transviados, como profetizara o profeta Malaquias, que dissera que Elias viria como o precursor do Messias: “Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Yahweh”. (Ml 3,23). Na verdade, esta profecia se realizaria em João Batista: “Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias...” (Lc 1,17), que é o precursor profetizado em Mateus: “É de João que a Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti.” (Mt 11,10). Jesus responde a essa questão quando lhe perguntaram sobre o profeta Elias: “Os discípulos de Jesus lhe perguntaram: ‘O que querem dizer os doutores da Lei, quando falam que Elias deve vir antes?’ Jesus respondeu: ‘Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E o Filho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo’. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista” (Mt 17,10-13). João Batista encarnou o "caráter forte" de Elias.
Ninguém assumia a responsabilidade de dar a Jesus o crédito que ele fazia por merecer: não de ser João Batista, não por ser Elias que retornava, não por ser um dos profetas que ressuscitara, mas por ser “o Cristo de Deus”. (Lc 9,20). Nos dias atuais vivemos situação semelhante: muitas religiões reconhecem Jesus parcialmente como um espírito de luz, ou líder histórico, político, ou revolucionário pacifista, ou grande mestre, ou profeta ou até como o maior psicólogo que já existiu.
Toda a Sagrada Escritura está cheia de respostas de profetas e santos que viveram antes desses acontecimentos e, mesmo sem conhecer a Jesus, já davam a sua opinião sobre quem ele seria.         O santo homem Jó disse: “Eu sei que o meu redentor está vivo e que no fim se levantará acima do pó”. (Jó 19,25); o profeta Isaias declara: Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Forte’, Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’. Grande será o seu domínio e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre”. (Is 9,5-6); o rei Davi atesta: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará!” (Sl 23,1); Jeremias, o profeta das lamentações, assim o define: “manancial das águas vivas” (Jr 2,13).
Jesus não quer saber o que pensavam os que viveram antes que ele depois de haver assumido a natureza humana; ele quer saber agora, quando ele já havia feito tantos prodígios e ensinado o caminho do retorno para a casa do Pai: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20).
Marcos, no início do seu Evangelho testemunha Jesus como “O Messias, o Filho de Deus”. (Mc 1,1). Muita gente, nos Evangelhos, já havia sido testemunha ocular de Jesus e dá testemunhos a respeito disso: o velho Simeão, na porta do Templo, recebendo a família sagrada quando da apresentação de bebê Jesus para o cumprimento da Lei de Moisés: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações”. (Lc 2,29-30); e João Batista, o precursor do Messias: “Não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas sandálias”, (Mc 1,7) e “convém que ele cresça e que eu diminua!” (Jo 3,30); e as irmãs Marta e Maria que receberam muitas vezes Jesus em sua casa: “Eu acredito que tu és o Messias, o Filho do Deus, que devia de vir ao mundo!” (Jo 11,27); e Natanael, que foi testado por Jesus: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (Jo 1,49); e Tomé que duvidou de Jesus ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus.” (Jo 20,28); e os samaritanos, que receberam o testemunho da samaritana: “Já não é pelo que ela disse que nós cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que ele é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.” (Jo 4,42). Até os inimigos declarados de Jesus sabiam quem ele era: os demônios: “Ele é o santo de Deus, o Filho do Deus altíssimo…” (Lc 8,28); Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8,29); os principais dos sacerdotes e os fariseus que o queriam matar: “Este homem opera muitos sinais; se o deixarem assim, todos crerão nele” (Jo 11,47); Pilatos, governador romano, que o mandou para o suplício da cruz: “Não vejo culpa alguma de que o acusais neste homem” (Jo 19,4,6); Judas, que vendeu o Senhor por umas poucas moedas de prata: “Traí o sangue de um inocente” (Mt 27,4); o malfeitor, que fora crucificado com Jesus, e presenciara os últimos momentos de sua vida: “Lembre-se de mim quando entrar no seu reino” (Lc 23,42); o centurião romano que comandou a crucificação de Jesus e assistiu a sua agonia: “Verdadeiramente este é o Filho de Deus” (Mc 15,39). Se o testemunho dos homens é importante, seja pelas pessoas que o deram, seja pelas circunstâncias que os levaram a confessar, o maior testemunho é o testemunho do Pai: “De mim testifica também o Pai, que me enviou” (Jo 8,18). E o testemunho é este: “Este é o meu Filho amado, em que me comprazo…” (Mt 3,17; 17,5).
Agora precisamos ter conhecimento do que Jesus falava de si próprio: “Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro” [...] “Eu sou o que testifico de mim mesmo…” (Jo 8,14.18); e o testemunho é: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá; e aquele que vive e crê em mim, nuca morrerá” (Jo 11,25); “Eu sou o pão da vida…” (Jo 6,35.48); “Eu sou a luz do mundo…” (Jo 8,12); “Eu sou o bom pastor… que dá a vida pelas suas ovelhas…” (Jo10,11); “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14,6). Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30).
Diante de Pilatos Jesus afirma a sua realeza: “Então, tu és rei?’ Jesus respondeu:’Você está dizendo que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a verdade, ouve a minha voz”. (Jo 18,37).
Não é somente o testemunho que Jesus dá de si mesmo que é importante, tanto pelo que ele é, como pelo que disse, como é importante o seu testemunho pelo que ele fez: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço testificam de mim, de que o Pai me enviou.” (Jo 5,36).
Jesus, ao perguntar aos Apóstolos: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20), Pedro, tomando a palavra pelos demais apóstolos, responde prontamente: “O Cristo de Deus”. (Lc 9,20). Jesus é o Messias, o Cristo de Deus, o Filho do Deus vivo. Pedro fala em nome de todos, já que a pergunta foi dirigida a todos. Em Pedro está a resposta da Igreja à pergunta mais importante que Cristo podia fazer: a pergunta sobre a sua verdadeira identidade.
Mas, de onde Pedro tirou a sua resposta? Da sua capacidade intelectual? Do seu potencial humano para compreender a verdade sobre Jesus? No Evangelho de Mateus, o próprio Jesus diz de onde veio essa inspiração para a resposta de Pedro: “Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. (Mt 16,17).
Paulo testemunhava nas sinagogas e pregava, “afirmando que Jesus é o Filho de Deus [...] que Jesus é o Messias.” (At 9,20.22). Nas suas cartas Paulo testemunhou que, conforme acontecera com Pedro ao afirmar que Jesus é “O Cristo de Deus”, tendo Jesus lhe respondido: “não foi um ser humano que lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”, da mesma forma, ninguém conhece quem seja Jesus realmente e qual o seu  senhorio se não for assistido pelo Espírito Santo: “E ninguém poderá dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser sob a ação do Espírito Santo”. (1Cor 12,3).
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina, dizendo:
§ 422 - “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5). “Este é o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1): Deus visitou seu povo (cf Lc 1,68), cumpriu as promessas feitas a Abraão e à sua descendência (cf Lc 1,55); fê-lo para além de toda expectativa: enviou seu “Filho bem-amado” (cf Mc 1,11)”.
§ 424 - “Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, cremos e confessamos acerca de Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Foi sobre a rocha desta fé, confessada por São Pedro, que Cristo construiu sua Igreja (cf Mt 16,18)”.
Ao Jesus nos perguntar: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20), o que lhe responderíamos? De acordo com a vida que vivemos é que damos resposta a essa pergunta. Não podemos afirmar que Jesus Cristo veio de Deus, que é o Filho de Deus se não cumprimos as suas determinações, porque, se afirmarmos que ele é o Filho de Deus e, portanto, Deus, e não cumprirmos o seu mandamento do Amor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12), somos hipócritas, falsos e bajuladores, porque não adianta dizer que ele é o Filho de Deus se não testemunhamos isso em nossa vida, em nossas atitudes, e se não cumprirmos as suas determinações. O nosso modo de vida, o nosso testemunho é que darão resposta sobre quem pensamos quem seja Jesus na realidade.
Então, para você, quem é Jesus? O que você pensa dele? Como você o encara? Como você vive em sua vida os seus mandamentos, as suas determinações, as suas mensagens, o seu Evangelho, o seu amor? Você pode até dizer que acredita sinceramente que ele é o Filho de Deus que se fez homem, mas, honestamente, você ama como ele amou? Você reza como ele rezou? Você perdoa como ele perdoou? Você se entrega e sofre pelos outros como ele se entregou e sofreu? Você consola os necessitados como ele consolou? Você ajuda o seu irmão carente como ele ajudou? Você se alegra com os alegres e chora com os tristes, assim como ele fez?
Se você estiver fazendo tudo isso que Jesus fez e com muito amor, se você colocou a mão no arado e não olhou para trás, se você tomou a sua cruz e seguiu passo a passo as pegadas de Jesus com muito amor e aceitação, então eu acredito quando você diz que crê que Jesus Cristo é o Filho de Deus, é Deus.
Mas, sinceramente, você está fazendo isso?

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